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domingo, 31 de julho de 2016

Guerra inevitável no Mar do Sul da China? (2/3), por Pepe Escobar

 Pepe Escobar, RT


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26/7/2016, 
Pepe Escobar, SputnikNews (traduzido no Blog do Alok)

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

Mar do Sul da China, Sudeste Asiático, foram tomados pela questão de como responder. Confabularam. Discutiram. Caíram em desespero.

Foi demonstração viva e em cores de como se fazem negócios "ganha-ganha" na Ásia. Pelo menos, em teoria.

Por fim, em reunião de cúpula em Vientiane, Laos, as dez nações da Associação de Nações do Sudeste Asiático [ing. Association of Southeast Asian Nations (ASEAN)] e a China finalmente decidiram-se por aquele mantra familiar – "diluir tensões".

Concordaram com parar de mandar gente para "ilhas, recifes, baixios, atóis e outros afloramentos", depois que a ASEAN declarou-se preocupada com as demandas de terra e "escaladas de atividades na área".


E tudo isso sem sequer falar de China – nem, tampouco, da decisão do Tribunal de Haia.

China e a ASEAN também se comprometeram a respeitar a liberdade de navegação no Mar do Sul da China (a qual Washington insiste que estaria ameaçada); a resolver por meios pacíficos as disputas territoriais, mediante negociações (precisamente a posição oficial dos chineses), levando também em consideração a Convenção da ONU sobre a Lei do Mar [ing. UN Convention on the Law of the Sea (UNCLOS)]; e trabalhar empenhadamente para produzir um Código de Conduta no Mar do Sul da China (está em produção há anos; com otimismo, um texto guia estará pronto no primeiro semestre de 2017).

Assim sendo, tudo resolvido? Não exatamente. Começou em Impasse Total. As coisas só começaram a andar de verdade quando as Filipinas desistiram de mencionar Haia na declaração final; e o Cambodia – aliado à China – sempre impediu que acontecesse, desde o primeiro momento.

E esse é o xis da questão, no que tenha a ver com a ASEAN negociar com a China. É uma tarefa de Sísifo chegar a algum consenso entre dez membros – apesar de a ASEAN propagandear que faz as vezes de perfeito conduíte para negociações. A China, por sua vez, prefere sempre negociações bilaterais, e aplicou a regra de Dividir para Governar até obter o que queria, seduzindo principalmente o Laos e o Cambodia como aliados.

A ameaça de um concorrente

A centralidade geopolítica estratégica do Mar do Sul da China é bem conhecida: uma encruzilhada naval de brutos $5 trilhões em comércio anual; rotas marítimas de metade bruta de todas as mercadorias embarcadas diariamente no mundo, um terço do comércio global de petróleo e dois terços de todo o comércio de gás natural liquefeito [ing. liquid natural gas (LNG)].

É também o nodo chave da cadeia global de abastecimento da China. O Mar do Sul da China protege o acesso da China ao Oceano Índico, que é a linha de abastecimento vital de energia de Pequim. A ilha Woody nas Paracels, sudeste da ilha Hainan, é também cabeça de ponte chave do projeto "Um Cinturão, Uma Estrada" [ing. One Belt, One Road (OBOR)] – as Novas Rotas da Seda.

O painel de arbitragem em Haia (composto de quatro europeus; um norte-americano de família de Ghana; e, significativamente, nenhum asiático) emitiu sentença que não é obrigatória; além disso, não é tampouco tribunal neutro, uma vez que a China, uma das partes na disputa, simplesmente recusou-se a participar dos procedimentos.

Além dessas expressões de mútuo entendimento ASEAN-China, ação quentíssima com certeza manterá ativos todos os fluxos de humores. O Pentágono, pode-se ter certeza, não cederá em seu programa Liberdade de Navegação [ing. Freedom of Navigation, FOM], que recentemente já registrou vários B-52 em sobrevoo no Mar do Sul da China, além das patrulhas usuais da Marinha norte-americana.

Mas agora Pequim está contragolpeando com estilo – deixou ver um de seus bombardeiros H-6K de longo alcance que podem ser armados com bombas nucleares sobrevoando o Baixio Scarborough, perto das Filipinas. O movimento só fez aumentar a paranoia do Pentágono, porque o verdadeiro jogo no Mar do Sul trava-se, em grande medida, em torno da estratégia militar aérea e submarina da China.

Para compreender a progressão, temos de voltar ao início da década dos 1980s, quando o Pequeno Timoneiro Deng Xiaoping instalou a primeira Zona Econômica Especial (ZEE) da China, em Shenzhen. Desde o início, todo o milagre chinês sempre dependeu da fabulosa capacidade da costa ocidental da China para se engajar no comércio global. Mais da metade do PIB da China depende do comércio global.

Mas, estrategicamente, a China não tem acesso direto a mares abertos. A geofísica é implacável: há ilhas por toda parte. E a geopolítica seguiu o mesmo movimento; muitas dessas ilhas são e podem vir a ser problema.

Wu Shicun, presidente do Instituto Chinês de Estudos do Mar do Sul da China, tem dito consistentemente ao longo dos anos: todas as ações de Pequim resumem-se a garantir acesso estratégico aos mares abertos. O ocidente reduz a questão a uma fórmula segundo a qual a China estaria em busca de um "lago chinês". Mas se trata de fato de garantir a segurança do próprio quintal naval. E implica, pode-se prever, profunda suspeita sobre o que a Marinha dos EUA pode inventar. O ministro da Defesa pensa nisso sete dias por semana, 24 horas ao dia.

Para Pequim, é perfeitamente claro: a costa ocidental tem de ser protegida a qualquer custo – porque por ali entram e saem as cadeias de suprimento global da China. Mas, quanto mais Pequim cresce em sofisticação militar, mais a máquina do hegemon – excepcionalista – vai ficando nervosa. Porque tudo que a visão de mundo casca-grossa do Excepcionalistão consegue conceber é que ali há "ameaça" de um concorrente.

O "acesso", drama maior que a vida

Do ponto de vista do Excepcionalistão, a questão é sempre o mito do "acesso". Os EUA têm de ter "acesso" pleno, total, irrestrito a qualquer ponto dos sete mares, às bases de seu Império de Bases, de pós-sistema-Britannia Rule: a "nação indispensável" reinando sobre as ondas.

Mas agora Pequim alcançou novo patamar. Já está na posição de defender com sucesso a estratégica ilha Hainan no sul. A base naval Yulin em Hainan é porto onde se reúne a frota expandida de submarinos chineses, que inclui não só estrelas como o submarino 094A classe Jin, mas também a capacidade para disparar a nova geração de mísseis balísticos intercontinentais chineses, como o JL-3, com alcance estimado de 12 mil quilômetros.

Closed Off: China to hold S. China Sea drills, warns against ‘freedom of navigation’ patrols http://on.rt.com/7jhs 

Impasse: China realizará manobras no Mar do Sul da China. Alerta contra patrulhas pró 'liberdade de navegação' http://on.rt.com/7jhs

Tradução: a China agora pode não só proteger, mas também projetar poder, com vistas, afinal, a conseguir acesso irrestrito ao Oceano Pacífico.

O contragolpe dos EUA a tudo isso é "Anti-Acesso", ou 2A [ing. Anti-Access, ou A2], mais "Negação de Área" [ing. Area Denial], que, em pentagonês chama-se "A2/AD". Mas a China também desenvolveu táticas muito sofisticadas de A2/AD, que incluem ciberguerra; submarinos equipados com mísseis cruzadores e, sobretudo, mísseis balísticos antinavios, como o Dongfeng 21-D, pesadelo total para aqueles porta-aviões norte-americanos, modelo patas chocas plantadas, de um bilhão de dólares.

Um programa chamado Pacific Vision, financiado pelo Gabinete do Pentágono para Avaliação de Redes, acaba de criar o conceito de Batalha Ar-Mar. Praticamente tudo sobre essa Batalha Ar-Mar é sigiloso. Enquanto o conceito era desenvolvido, a China dominou a arte dos mísseis balísticos de muito longo alcance – ameaça letal para o Império de Bases, fixas e/ou flutuantes.

O que se sabe é que o núcleo do conceito de Batalha Ar-Mar, conhecido em pentagonês orwelliano como "NIA/D3" [ing. "networked, integrated forces capable of attack-in-depth to disrupt, destroy and defeat adversary forces", aprox. "forças integradas em rede capaz de ataque-em-profundidade para romper, destruir e derrotar forças adversárias"]. Para que se possa ver alguma coisa através do nevoeiro: é como o Pentágono passará por cima do A2/AD chinês. O Pentágono quer ser capaz de atacar todo e qualquer centro chinês de comando e controle, num enxame de "operações cirúrgicas". E tudo isso sem jamais mencionar a palavra "China".

O jogo está nesse pé. A hegemonia da nação indispensável sobre todo o Mar do Sul da China tem de ser absolutamente indiscutível e não contestada. Sempre. Mas já não é. A China vai-se posicionando como aspirante esperto, assimétrico, à posição de "concorrente". Por enquanto, Pequim aparece em segundo lugar na lista dos EUA de "ameaças existenciais". Não fosse o formidável poder nuclear da Rússia, a China já seria a ameaça existencial número 1.

Ao mesmo tempo, a China não tem qualquer necessidade de lançar qualquer ofensiva militar contra alguma nação membro da ASEAN: é mau para os negócios. O ambiente depois da sentença de Haia – como a cúpula do Laos já comprovou – aponta para soluções diplomáticas de longo prazo. Mas que ninguém se engane: em algum ponto no futuro haverá confronto sério entre EUA e China, em disputa pelo "acesso" no Mar do Sul da China.

blogdoalok

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